quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Natal será amargo para os últimos cristãos que vivem em Gaza

No berço do cristianismo, os cristãos dos territórios ocupados não são mais que 52.000, ou seja, 1,37% dos palestinos


Jerusalém, Israel - Neste ano o Natal terá um gosto amargo para os poucos cristãos que restam em Gaza, de onde os jovens preferem partir a ficar em um enclave palestino onde não enxergam nenhuma oportunidade.

Elias Mona passará o Natal pela primeira vez sozinho. Seus cinco filhos se foram deste pequeno povoado encravado entre Israel, Egito e o Mediterrâneo e devastado por três guerras nos últimos sete anos. Foram para a Europa.

"No início, iam para estudar, mas nunca voltaram porque aqui não há trabalho", lamenta este cidadão de Gaza diante de uma imensa cruz de madeira erguida em frente à igreja de rito latino da Cidade de Gaza.

No berço do cristianismo, os cristãos dos territórios ocupados não são mais que 52.000, ou seja, 1,37% dos palestinos. Menos de 6% deles vivem na Faixa de Gaza, onde há uma década eram 7.000.

A vida é cada dia mais difícil neste pequeno território controlado pelos islamitas do Hamas, em desacordo com a Autoridade Palestina de Mahmud Abbas.

O desemprego afeta dois em cada três jovens e a economia se encontra à beira do abismo. Segundo uma pesquisa recente, um morador de Gaza em cada dois quer se exilar, algo muito difícil devido ao bloqueio imposto por Israel e Egito.

As dificuldades sociais e econômicas não explicam por si só o êxodo dos cristãos, afirma Saad, de 50 anos. "Se nossos jovens vão aos Estados Unidos e à Europa é porque não veem aqui nenhuma oportunidade: a vida é asfixiante e o extremismo cresce", expõe.

O exílio a outro país árabe não é nem mesmo cogitado, pelos "crimes do Estado Islâmico", o grupo jihadista autor de múltiplas atrocidades, sobretudo contra os cristãos em Síria, Iraque ou Líbia.

Viver como os demais
O patriarca latino de Jerusalém, Fuad Twal, mencionou este sofrimento durante uma missa na igreja da Santa Família de Gaza.

"Este ano foi negativo em muitos aspectos: houve violência, exílio, fome e dor. Depositamos nossas esperança no próximo ano, para que forneça mais justiça, igualdade, unidade e misericórdia", declarou a principal autoridade católica romana na Terra Santa.

Em sua homilia, convocou a "pensar nos que sofrem, nos deslocados, naqueles que tiveram suas casas destruídas, que perderam suas terras". Gaza ainda sofre os efeitos da ofensiva israelense de 2014.

É difícil estar em festa nestas condições, reconhece George Antun, um cristão de Gaza. "Celebramos o nascimento de Cristo, mas ao mesmo tempo sofremos pelo que acontece aqui, na Palestina". Por isso - acrescenta - "rezamos ao rei da paz, nosso senhor Jesus Cristo, para que traga paz, para que a Palestina seja libertada e possamos viver como os demais povos, é nosso direito".


Belém, a cidade na qual Cristo nasceu, segundo a tradição bíblica, se encontra a menos de uma centena de quilômetros. Mas poucos cidadãos de Gaza poderão viajar à Cisjordânia ocupada para celebrar o Natal. Para isso precisam de um salvo-conduto, que Israel expede a conta-gotas e apenas por alguns dias.


Fonte:  France Presse

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