Nobel da Paz foi entregue nesta quinta-feira ao Quarteto do Diálogo Nacional tunisiano, por ter salvo a transição democrática na Tunísia por meio do diálogo, um método que os agraciados desejam ver aplicado na Síria e na Líbia.
"As armas, no final das contas, só levam à destruição", declarou à AFP Abdessatar Ben Moussa, presidente da Liga tunisiana dos Direitos Humanos (LTDH).
"Na Líbia, por exemplo, fala-se agora de um certo diálogo (...). É preciso resolver as (situações) nos países vizinhos por meio do diálogo com a sociedade civil, com a sociedade política e, claro, deixar de lado as facções terroristas", acrescentou.
"Hoje temos uma necessidade enorme de diálogo entre as civilizações e de uma coexistência pacífica, respeitando a diversidade e a diferença. Hoje, precisamos fazer da luta contra o terrorismo uma prioridade absoluta", declarou, por sua vez, Houcine Abassi, secretário-geral do sindicato UGTT, um dos componentes do quarteto.
Junto com a União Geral Tunisiana de Trabalho (UGTT), sindicato histórico da Tunísia e símbolo da independência, da patronal Utica, o LTDH forma o quarteto que recebeu o prestigioso prêmio das mãos da presidente do comitê do Nobel, Kaci Kullmann Five.
Sob um forte esquema de segurança em razão de ameaças jihadistas, a cerimônia começou às 13H00 (10H00 de Brasília) no Hôtel de ville de Oslo na presença do rei Harald da Noruega e do governo norueguês.
Os outros Nobel (literatura, química, medicina, física, economia) serão igualmente entregues durante o dia em Estocolmo.
O Quarteto organizou um longo e complicado diálogo nacional entre os islamitas e seus opositores, obrigando-os a tirar o país da paralisia institucional na qual estava afundado após a queda do regime autoritário de Zine El Abidine Ben Ali, em 2011.
Uma nova Constituição foi adotada no início de 2014, e um executivo de tecnocratas sucedeu o governo dirigido pelos islamitas do Ennahda, vencedores das primeiras eleições democráticas do país, para buscar uma saída para a crise política.
A Tunísia conquistou sua transição política enquanto, ao seu redor, a Primavera Árabe se transformava em caos na Líbia, no Iêmen e na Síria, e a repressão retornava ao Egito.
Lutar contra a pobreza
Mas o processo de democratização continua frágil, dada a ameaça jihadista e as autoridades decretaram, pela segunda vez este ano, estado de emergência após um atentado suicida contra a segurança presidencial que fez 12 mortos em 24 de novembro, um ataque reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI).
A este respeito, Ben Moussa declarou estar "muito preocupado, porque cada vez que há um ato terrorista, várias vozes se elevam (...) para dizer que, se há terrorismo, devemos colocar os direitos humanos de lado".
Antes do ataque de 24 de novembro, dois outros atentados enlutaram o país: o primeiro foi em março, com 22 mortos no Museu do Bardo em Tunis, e o segundo matou 38 turistas em junho perto de Sousse (centro-leste).
A Tunísia é também um dos maiores fornecedores de combatentes estrangeiros para movimentos jihadistas. A ONU estima em cerca de 5.500 o número de tunisianos que partiu para a Síria, Iraque ou Líbia.
No plano econômico, o turismo, que respondia por cerca de 7% do PIB e cerca de 400.000 empregos diretos e indiretos, está parado desde o ataque de Sousse.
"Conseguimos a nossa transição democrática, mas temos de ter sucesso na transição econômica", lançou na quarta-feira Ouided Bouchamaoui, presidente da Utica.
O Prêmio Nobel consiste de uma medalha de ouro, um diploma e um cheque de oito milhões de coroas suecas (860.000 euros, 973.000 dólares).

Fonte: Exame.com